O tambor de mina, prática ritual de matriz africana, é uma religião “que se caracteriza pelo transe ou possessão, em que entidades sobrenaturais são cultuadas e invocadas, incorporando em participantes, por ocasião das festas, com cânticos e danças, executadas ao som de tambores e outros instrumentos” (Ferretti, S.1996, p.11). Essa definição aproxima o tambor de mina do Maranhão de outras religiões de origem africana como o Candomblé da Bahia ou o Batuque do Rio Grande do Sul. A história do tambor de mina é a história de muitas mulheres e homens negros que se organizam, socialmente e ritualmente, em torno de práticas rituais de ancestralidade africana no Estado do Maranhão.
Nesse contexto, Maria Cristina, filha-de-santo da Casa de Nagô, fundou o Terreiro do Justino/Avarequetê/São Benedito, entre os anos de 1896-1897, mais especificamente na data de 10 de agosto de 1896, segundo a história oral dessa casa. Atualmente o terreiro localiza-se no mesmo local no qual foi fundado, que se tornou o Bairro da Vila Embratel, cuja origem, crescimento, transformação e ocupação está intrinsicamente ligada as invasões que ocorreram nessa área onde está situada essa casa de mina, que foi bastante impactada pela construção do Porto do Itaqui em São Luís/MA. Como todo projeto de desenvolvimento que causa danos ambientais e transformação do espaço da cidade nas zonas periféricas, o entorno do terreiro recebeu imigrantes vindos principalmente da Baixada Maranhense, com a notícia de construção e ampliação de um Porto e a abertura da Universidade Federal do Maranhão, dois grandes projetos de desenvolvimento baseado no extermínio e expulsão de comunidade tradicionais.
A construção do Porto do Itaqui e a implementação da mineradora Vale do Rio Doce nessa região, desencadeou um êxodo rural que afetou o cotidiano das práticas ancestrais africanas existentes nesse terreiro, inúmeras foram as mudanças e ameaças ao logo de sua existência nessa localização. Apesar das dificuldades do Terreiro do Justino, que vão desde a invasão do seu terreno até intolerância religiosa, esse terreiro de Mina é o único fundado e liderado por mulheres no século XIX ainda em funcionamento em São Luís/MA. Com um vasto calendário de atividades que inclui toques de mina, ladainhas, Festa do Divino Espírito Santo, Festa para Averequetê, Cura, é atualmente, comandada por mãe Iolanda, que dedicou toda a sua vida a essa casa, e é filha biolológica de dona Antonia Paulina, que foi também filha-de-santo do Terreiro do Justino. Este tem uma importante ligação com os Terreiros de Pai Itaparandi, situado no Maiobão, em Paço do Lumiar, e Pai Clemente Filho, no Anjo da Guarda, em São Luis/MA.
Essa casa de matriz matriarcal foi comandada até aqui por cinco mulheres, além de dona Iolanda, que sucedeu dona Mundica Estrela, que faleceu em 2018; tiveram na chefia, dona Antônia da Silva Raposo, dona Otávia Enedina Serrão, que se sucederam após a morte da fundadora, dona Maria Cristina. Importantes mães-santo e mulheres mantenedoras de casas de matriz africana como dona Mundica da Vila Passos, que era filha do Terreiro do Justino, abriu seu terreiro, iniciou seus filhos, mas nunca rompeu os laços rituais com o Terreiro do Justino, para este enviou mulheres como dona Dozinha, do Rio Grande, dona Maria Rosa, dona Deusa.
Esta exposição, assim é uma homenagem a essa casa de mina, às mulheres dessa casa, se constitui de um conjunto de imagens de diferentes rituais do Terreiro do Justino, extraídas de pesquisas realizadas no Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular – GP Mina/UFMA.
Endereço do Terreiro do Justino: Rua São Jose, 107, Vila Embratel, São Luís/Maranhão
Contato: Iolanda da Conceição Freitas – líder da casa
Telefone: (98) 8919 – 3782
Curadoria:
Marilande Martins Abreu
Vida Cotidiana no Terreiro do Justino/Averequetê
